Mais observações estratégicas sobre um período chato::O fim da Guerra Fria e o quadro político brasileiro(outro delírio do redator::)::

 Depois de um tempo sem postar nada, pelos motivos de sempre, o redator:: teve a ótima notícia deque o Idelber Avelar, o popular “Biscoito Fino”, andou lendo Paul Virilio. Não tenho idéia de quais Virilio (conheço pelo menos seis…) – ele não informou. Mas como o objetivo é um livro sobre a violência, certamente esperarei ansioso. Não sei se o sócio-fundador do clube dos blogueiros favoritos de causa::  passou pelos seminais “Guerra pura – A militarização do cotidiano” e “Guerra e cinema”, mas esses dois textos, dos anos 1980 – são de abalar. Supõe este despretencioso redator:: (“despretencioso” a ponto de pretender pautar livros escritos pelos outros…) que ambos os títulos devam ter estado no meio das matutações do “Biscoito Fino”. Mas de qualquer maneira, é interessante trazer a questão da velocidade para o debate sobre a violência, visto que estamos todos envolvidos numa guerra, e cada estação de trabalho virou um “bunker glocal”. Por sinal, vale recomendar atenção nesse conceito “heterodoxo” bolado pelo professor Eugênio Trivinho, em artigo que aconselho a todos os membros de outro clube: o dos amadores de estratégia. Analisando o fundamento mediático do processo civilizatório contemporâneo, o professor Trivinho  busca entender uma das principais, dentre as que ele identifica como suas múltiplas significações sociais-históricas: a “militarização velada” da vida cotidiana na era digital. Ele funde três noções, a de “bunkerização ampliada”, de “imaginário social” e “fenômeno glocal” – este um cruzamento de “global” e “local” possibilitado pelo surgimento da Internet. O “bunker glocal” é uma consequência do surgimento da cultura marginal digital, conhecida como “cibercultura”, e acaba sendo uma espécie de linguagem – que todos nós, praticantes de  blogues, estamos aprendendo e praticando. Dentre o turbilhão de idéias do professor Trivinho, vale destacar algumas, que ele aponta como mitificações e/ou ingenuidades que acompanham a proliferação social dos media digitais:  a de que o argumento mais apropriado às condições social-históricas do presente era aquele bifurcado entre global e local; a de que o espaço geográfico foi completamente superado em favor do tempo real; a de que a comunicação, sendo sustentáculo do regime democrático e da liberdade de expressão, constituiria processo absolutamente civil; a de que o contexto de interface interativa, prevalecendo civil, seria total e indiscutivelmente inofensivo, “lavado” de qualquer problema, fadado a vigorar como reduto exclusivo de homeostase lúdica, de condutibilidade pré-simbólica entre ente humano, objeto tecnológico e rede em tempo real (o redator:: confessa, candidamente, que não entendeu direito esta última parte, mas… vá lá.).

Ainda assim, as quatro teses do professor parecem caber como uma luva em nosso panorama político. Estamos em uma guerra, enfim, e o que observamos é um amplo movimento, no qual agentes com posturas estratégicas e táticas se movem num contexto onde o local – o bunker – se projeta para o global, tendo a velocidade como paradigma. A guerra se transforma em uma espécie de diversão para essa gente ocupando os ”bunkers glocais”, à direita e à esquerda. Aí parece residir um processo de militarização da vida civil. Os fundamentos da vida militar – disciplina, unidade de princípios e de doutrinas, hierarquia verticalizada, coordenação de ações – tornam-se princípios da vida dentro dos bunkers. E o amplo domínio dessa tecnologia – democrática ao ponto de poder ser operada por exércitos amadores de internautas e blogueiros em tempo real – constituiu abalo não previsto pelas elites convencionais.

Claro que gente como o Pedro Dória tem chamado atenção para esse fenômeno, e multidões de acadêmicos pensam sobre ele nas universidades.  Mas este redator:: acha que as considerações têm de ser ampliadas, e a idéia de exércitos que se divertem fazendo a guerra se torna… digamos… fascinante. Por exemplo, o panorama internacional dos últimos vinte ou trinta anos pode nos acrescentar alguma coisa? Vejamos como: um outro livrinho bastante razoável: “O belo futuro da guerra“, de Phillipe Delmas (uma resenha bastante enxuta, aqui), publicado nos anos 1990.

Em resumo, Delmas defende que, a Guerra Fria, uma ameaça de destruição apocaliptica  produziu, paradoxalmente, estabilidade porque engendrou uma ordem mundial, que soviéticos e americanos reconheciam, pois seriam destruídos caso tentassem rompê-la pela simples imposição da força. Optaram pela diplomacia baseada no próprio poder de dissuasão ao invés da guerra aberta. O apocalipse em caso de conflito entre as duas superpotências e os alinhamentos com um dos blocos tiveram por conseqüência suprimir, na Europa, diversas disputas menores porque estas poderiam descambar em conflitos potencialmente mais perigosos. As superpotências transferiram seus embates para a periferia, de forma indireta: as guerras limitadas na Ásia e na África e o “desfile de bandeira” nos mares e ares. A GF terminou de forma repentina e inesperada para quase todos os analistas e aí começa o paradoxo: a ordem mundial baseada na supremacia absoluta americana não gerou estabilidade, e  idéia de um direito internacional ampliado e do desenvolvimento econômico resultando em estabilidade duradoura revelou-se uma falácia. A tese de que a supremacia econômica e militar americana produziriam um tipo de “Pax Brittanica” modernizada e “justa” não custou a mostrar seus limites. Os conflitos decorrentes da fragilidade dos estados ex-Socialismo Real, as guerras na África, a narcoguerrilha latino-americana, a multipolarização da política constituíram e o surgimento de agentes não-estatais com capacidade de ação ofensiva, geraram um cenário onde os focos de tensão se mostram muito mais difíceis de dissolver, e o aparato diplomático se mostra de pouca utilidade. 

Na época que escreveu o livro, Delmas se preocupava com a difusão da tecnologia nuclear e de mísseis balísticos nesse ambiente. Durante a GF apenas as cinco potências – as que tinham assento no Conselho de Segurança da ONU –  detinham tecnologia de explosivo nuclear e condições de empregá-la. Isso ajudou a impedir a deflagração de uma guerra generalizada e obrigou as potênias a criarem um sistema global. No momento em que se dissolveu a estabilidade criada nesse contexto, o monopólio de armas nucleares e mísseis balísticos deixa de ser um fator estabilizador: vários paises em condições de adquirir artefatos nucleares se vêem desimpedidos de fazê-lo. Isto aumentou os riscos de um conflito nuclearizado localizado, de conseqüências até agora não modeláveis.

Lendo o  texto do Idelber, o redator:: ficou matutando: esse conjunto de condições não se reproduz, de modo miniaturizado, na política brasileira atual? O crescimento, lento e seguro, do PT – com um programa estratégico de longo prazo que trouxe à cena grupos sociais que antes eram considerados apenas como massa de manobra -, somado à crise das mídias convencionais e à difusão dos meios telemáticos (a tal “burkerização”) não constituiriam fatores de mudança que, no nível do quadro político brasileiro, constituiriam fator de desestabilização semelhante aqueles surgidos com o fim da GF?

A questão  do surgimento do PT como partido dominante merece umas palavrinhas. Ao que parece, a elite brasileira tradicional não tinha elementos para projetar os possíveis cursos de ação do novo agente. No primeiro governo Lula, um fator complicador a mais: a estratégia econômica daquele momento resultou na tese de que o partido, no governo, teria de abandonar seu programa – o que, em 2002, alguns analistas chamavam de “desapropriação de Lula pelas elites”. A estabilidade começou a se romper com a aplicação do princípio de distribuição de renda, e parece que a elite conservadora levou certo tempo até notar que o PT continuava onde sempre esteve. E parece que, como na época do “fim do socialismo” quando a esquerda ficou com as calças na mão, aqui foram os conservadores que não tiveram ferramentas para elaborar uma resposta funcional. É uma visão um tanto simplista, esse redator:: admite, mas o simplismo aqui tem a função de deixar em primeiro plano o quadro geral, e o quadro geral aponta uma mudança de paradigmas.

Como se lê no “Biscoito”: “A coisa ali é de uma velocidade estonteante. Facilita a circulação de informações, mas nem sempre estimula o raciocínio mais sofisticado e crítico.” Por “ali” o blogueiro quer dizer o Twitter, mas este redator:: amplia – por “ali”, temos de entender  uma multidão de formadores de opinião “bunkerizados”, e a diversidade de agentes permite, em princípio, o “raciocínio mais sofisticado e crítico”. Mas, por outro lado, esse raciocínio é, de imediato, necessário? Parece a este redator:: (cujo raciocínio é muito pouco sofisticado…) que não. Afinal, numa guerra, o objetivo inicial é derrotar o inimigo. As tratativas ficam para depois. E, neste ponto, nosso general tem razão – o objetivo deve ser eliminar o outro lado.

É uma constatação dura? É. No fundo, essa não é uma brincadeira para mocinhas de colégio de freiras. No momento em que se dispõe a exterminar reputações e figuras públicas, convocando ao linchamento público, a “oposição” – incluído aí o “partido grande imprensa” – está jogando exatamente esse jogo. Tal como durante a GF, parece que, até dez anos atrás, os padrões de confronto estavam estabelecidos, ainda que com alguma vantagem para o lado conservador. É interessante, neste momento, lembrar da época da imprensa alternativa – o redator:: já encanecido, não saberia dizer se existe alguma contigüidade com as mídias digitais de hoje, mas lembra a proliferação de tablóides e as táticas para mantê-los circulando – que faziam surgir, às vezes, dois ou três títulos por semanas, impressos em gráficas cuja principal característica era a capacidade de serem escondidas. Circular era crucial, pois implicava em criar canais de difusão de informação e debate. A época era outra, e o aspecto militar, mais evidente – na época a “oposição” era outra e a situação, também.

Assim, o redator:: tem certeza que testemunhamos e participamos de uma guerra, se pergunta se dela não resultará o fim da política tradicional. Um tipo de democracia ainda difícil de projetar, mas que tem por base uma multidão de agentes altamente disciplinados, formados em torno de princípios, aplicando táticas baseadas na difusão de informação em tempo real (seria o princípio do movimento levado ao paroxismo – o exército não para nunca de se deslocar, procurando posições de vantagem). A indisciplina que se fala imperar na Internet (a tal “homeostase lúdica” de que fala o professor Trivinho) é uma falácia: um blogueiro tem de ser disciplinado ao ponto de reordenar seu tempo para incluir nele uma atividade extra, e saber medir as vantagens de manter essa atividade.

Essa incapacidade das elites responderem à onda Lula e ao movimento PT é interessante e certamente dará o que falar por gente mais qualificada. Mas faz todo o sentido as invocações a espantalhos sacados, pela direita, da esquerda tradicional – Hugo Chávez e o “ataque à liberdade de imprensa”, os principais. Por sinal, observem que Reinaldo Azevedo e Merval Pereira não irão ao Clube Militar falar sobre “o perigo totalitário” – eles irão falar da “restrição à liberdade de imprensa”. Claro – RA e MP não são idiotas, longe disso. Eles sabem muito bem o que significa “liberdade de imprensa” – até aqui, tem sido das principais armas do arsenal das elites . Neste ponto, o redator:: concorda (outra vez) com a avaliação de Idelber: “Discordo dos camaradas que dizem que o governo contemporizou demais com os conglomerados máfio-midiáticos. O governo agiu corretamente com eles: 1) Garantiu a liberdade de imprensa: Globo, Veja, Folha e Estadão jamais foram censurados, apesar das insistentes referências a Hitler e Mussolini na imprensa brasileira; 2) Iniciou a comunicação direta com a população, através de órgãos como o Blog do Planalto e o Blog da Petrobras; 3) Democratizou a circulação das verbas de publicidade, o que realmente enfureceu os caras; 4) Realizou a Confecom, que envolveu a sociedade civil e estabeleceu as bases para um outro modelo de comunicação.“

Observe-se que o “Biscoito Fino” aponta exatamente para o que pode constituir ameaça de fato ao “bunker” da elite – o governo meter-se no “bunker glocal” do professor Trivinho e, de lá, passar a fazer guerra de “movimento paradoxal”. Esse movimento teria como principal vantagem acelerar uma mudança de paradigma da política tradicional. Vamos esperar para ver, mas parece que, entre velocidade, burkers e paradigmas,  essa guerra tem um belo futuro pela frente::

Um adendo (às vezes o redator:: dá uma dentro): Conferindo os “bunkers glocais” (nunca mais a palavra “blogue” aparecerá aqui no causa::), o redator acabou tendo a atenção chamada para o toque do “Biscoito Fino” sobre uma manifestação surgida no sítio da CNBB, de autoria de um bispo filofascista). Parece que o doutor Idelber absorveu bem os ensinamentos do Virilio. Não poderia ser de outra maneira. Como não dá para dirigir diretamente ao tópico que interessa, causa:: reproduz – e aproveita, já que perguntar não ofende… Ô Biscoito, não dá prá você dar um jeito de linkar cada um dos tópicos? “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil manteve em seu portal, durante 72 horas, uma carta hidrófoba do Bispo Luiz Gonzaga Bergonzini que fazia explícita campanha contra Dilma Rousseff e acusava o PT de ser “contra os valores da família”. A carta foi retirada quando o dano já havia sido causado. Agora está lá uma nota genérica e neutra sobre as eleições. No entanto, a carta hidrófoba circula em vários fóruns da internet assinada por Dom Bergonzini, mas apresentada como se fosse a palavra da CNBB (como se vê aqui ou aqui). Digamos que, nos dias de hoje, se eu demorar 72 horas para corrigir algo no blog, é melhor deixar o erro lá. A correção não faz muita diferença se for tão lenta.”

Recordar é viver::Como o Ocidente constuma a tratar as nações árabes::

Agora que os EUA parecem dispostos a abrir negociações com Irã, e agora que Israel, desde sempre, vitupera tendo como fundo musical o tiroteio de suas armas de última geração (em boa parte financiadas pelos EUA), talvez algumas pessoas tenham a curiosidade aguçada por saber quais são os antecedentes históricos dessa situação. Já falamos alguma coisa em torno da Guerra dos Seis Dias, quando todos os problemas da região parecem ter começado. Digamos que começou uma espécie de “segundo capítulo” uma vez que Israel, então, conseguiu aquilo que os especialistas militares chamam de “vitória decisiva”. O primeiro capítulo começa em 1948, e o enredo apresenta a nação judia “lutando pela sobrevivência” contra vizinhos reconhecidos (ainda hoje, por grande parte da imprensa ocidental…) como odientos e incivilizados. Esse “primeiro capítulo” teve várias “cenas”. Escolhemos uma delas. Recordar é viver…::

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A descolonização do Império Britânico veio relativamente rápido após a Segunda Guerra Mundial. Em 1947 foi concedida a independência a Índia, ao Paquistão e a Birmânia; no ano seguinte, foi a vez do Ceilão. O processo não deixou de ser sangrento – milhões de hindus e mulçumanos foram massacrados em faxinas étnicas e nos subseqüentes deslocamentos populacionais -, mas a potência colonial em si recuou relativamente ilesa. Um levante comunista, na vizinha Malásia, no entanto, levou o governo britânico, em junho de 1948, a declarar um estado de emergência que só seria suspenso doze anos mais tarde, com a derrota dos rebeldes. Mas, de modo geral, e apesar da retirada de residentes e administradores coloniais da Índia e de países vizinhos, a saída da Grã-Bretanha do sul da Ásia foi menos traumática do que se poderia esperar.

No Oriente Médio, a situação foi mais complicada. No território da Palestina, sob mandato britânico, a Grã-Bretanha, em 1948, declinou de suas responsabilidades – ainda que sem grandes tribulações. No Iraque, Grã-Bretanha e EUA tinham interesses em comum, relacionados ao petróleo, mas, finda a guerra, os EUA, progressivamente  substituíram o Reino Unido na condição de potência dominante. Mas foi num país que jamais tinha sido colônia britânica onde a Grã-Bretanha, paradoxalmente, vivenciou todas as ironias dramas da descolonização, colhendo, como “cereja do bolo”, uma derrota acachapante: o Egito. Essa história toda se passou ao longo de alguns anos, entre 1954 e 1956, e recebeu o nome de “Crise do Canal de Suez”. Foi quando a Grã-Bretanha, pela primeira vez, passou por um tipo de humilhação internacional que já era bem conhecida pelos franceses.

O interesse britânico no Egito tinha dois nomes (talvez “tags”, como dizemos nesses blogues…): subcontinente indiano e necessidade de petróleo. Os britânicos tomaram o Cairo em 1882, em plena época de ouro do imperialismo, treze anos depois da abertura do Canal de Suez. Até a Primeira Guerra Mundial, o Egito foi comandado, de fato, por um residente britânico (durante a maior parte do período o temível lorde Cromer). De 1914 a 1922, o Egito foi protetorado britânico, antes de se tornar independente. As relações entre os dois países permaneceram estáveis, por algum tempo, sendo formalizadas através de um tratado em 1936. Todavia, em outubro de 1952, o novo governo do Cairo revogou o referido tratado. Em resposta, os britânicos, receosos de perder o acesso privilegiado a um curso de água, estrategicamente crucial, reocuparam a Zona do Canal.

Dois anos depois, o então tenente-coronel Gamal Abdel Nasser, tornou-se chefe de governo e passou a exigir a retirada dos britânicos do Egito. Cada vez mais dependente do petróleo barato e pago em libras, transportado através do Canal , os britânicos tentaram transigir. Conforme Anthony Eden, então ministro das Relações Exteriores, advertiu em fevereiro de 1953, ao Conselho Ministerial Britânico, “a ocupação militar pode ser mantida à força, mas, no caso do Egito, a base que apóia tal ocupação será de pouca utilidade, se não houver mão-de-obra local que a sustente.”

O resultado foi que, em outubro de 1954, Londres assinou um acordo para evacuar a base militar de Suez em dois anos. Mas o acordo previa que a presença militar britânica no Egito poderia ser retomada caso seus interesses na região fossem ameaçados. O acordo foi cumprido e em 13 de junho de 1956 os últimos soldados britânicos deixaram Suez. Aquela altura, o Nasser já se tornava um problema. Seu carisma funcionava como um imã para os radicais árabes da região. Como se isto já não fosse suficiente, apareceram os soviéticos: em setembro de 1955, o Egito anunciou uma grande transação de armas com a Tchecoslováquia, satélite da URSS. Eden e seus assessores começaram a comparar Nasser a Hitler: uma ameaça diante que era preciso enfrentar, e não se curvar. Paris tinha a mesma visão, embora a insatisfação francesa tivesse motivos diversos: Nasser era um a influência negativa sobre os súditos franceses do norte da África. Os americanos também não nutriam nenhuma simpatia pelo presidente do Egito. Durante uma reunião com Tito, na Iugoslávia, em julho de 1956, Nasser lançou uma declaração de “não-alinhamento”, explicitamente declarando o Egito independente do Ocidente. Os norte-americanos sentiram-se ofendidos,e interromperam as conversações sobre o financiamento para a represa de Assuan, a ser construída no Nilo. Uma semana depois, Nasser nacionalizou a Companhia do Canal de Suez. O motivo é fácil de entender: o Canal era em território egípcio, porém a maior parte das receitas recolhidas nele destinava-se à companhia de capital estrangeiro com sede em Londres. A reação das potências ocidentais foi o estabelecimento de uma frente, convocando uma reunião em Londres para decidir a resposta a Nasser. Realizada em 23 de agosto, dela resultou um “plano”, a ser apresentado ao governo egípcio pelo primeiro-ministro australiano Robert Menzies, um liberal extremamente pró-britânico e pró-ocidental (em seu segundo período d governo, a Austrália envolveu-se na Guerra do Vietnam). Todos pareciam esperar que a proposta fosse rejeitada, como de fato, foi. Os delegados que haviam comparecido ao encontro em Londres voltaram a se reunir entre 19 e 21 de setembro, e criaram a Associação dos Usuários do Canal de Suez. Nesse ínterim os britânicos anunciaram que encaminhariam a disputa à plenária das Nações Unidas.

Até aquela altura os britânicos procuravam alinhar sua reação às posições de Washington, mas suspeitavam, desde antes da Segunda Guerra, das motivações  norte-americanas quanto à região e ao império, como um todo. Era crença corrente em Londres que Washington pretendia substituir a Grã-Bretanha no Oriente Médio, e a retórica norte-americana sobre a “autodeterminação dos povos” e o “livre comércio” era interpretada pelos britânicos como recurso para seduzir elites locais. Ainda assim as relações entre os dois países mantinham-se, de modo geral, boas. A dinâmica da Guerra Fria encobria os ressentimentos mútuos e os britânicos achavam que a conversa de Eisenhower sobre um “excesso de preocupação com Nasser” era retórica para o público externo mas, na hora do “ora, veja”, poderiam contar com a simpatia dos EUA.

Foi nesse contexto que o primeiro-ministro britânico  resolveu dar uma lição no egípcio mal-comportado. Até então, a ONU vinha sendo vista como fórum para discussão da questão, e tanto britânicos como franceses levavam a suas querelas à Assembléia Geral. Mas de fato as duas potências não queriam uma solução diplomática – consideravam a organização internacional morosa, pouco enérgica e incapaz de entender os interesses dos dois países. O governo britânico então, deu início a conversações secretas com a França, para buscar uma solução militar conjunta: a invasão do Egito. Em 21 de outubro, os planos foram ampliados com a inclusão dos israelenses. Estes tinham interesses bastante claros: uma linha precária de cessar-fogo tinha sido estabelecida entre Egito e Israel, em fevereiro de 1949, através de um armistício. Ambos os lados, entretanto, a consideravam inaceitável, e as hostilidades eram freqüentes principalmente na região de Gaza. Desde julho de 1951 os egípcios bloqueavam o golfo de Aqaba, restringindo o comércio e a locomoção dos israelenses. Israel pretendia reduzir a esfera de ação de Nasser e garantir os interesses territoriais e de segurança nacional do país, no Sinai e nas áreas circunvizinhas. O grupo reunido secretamente chegou a um acordo. Israel atacaria o exército egípcio no Sinai, avançando para ocupar toda a península, inclusive o Canal de Suez, no limite ocidental. Franceses e britânicos expediriam um ultimato, exigindo que os dois lados recuassem e então, comoforças neutras, em nome da comunidade internacional, atacariam o Egito. A ofensiva começaria pelo ar e continuaria por mar. Assumiriam o controle do Canal, sob a alegação de que o Egito não tinha competêcia para controlar um recurso tão importante. O plano foi mantido em absoluto segredo. A princípio, tudo pareceu correr bem. Em 29 de outubro, as forças israelenses avançaram pelo Sinai. Ao mesmo tempo, de Malta, uma força tarefa britânica que incluía dois navios-aeródromos e forças aeromóveis zarpou em direção ao Egito. A agressão israelense foi levada ao Conselho de Segurança em 30 de outubro, e, no dia seguinte, Grã-Bretanha e França vetaram uma moção que determinava o recuo de Israel. Ao mesmo tempo, expediram ultimato conjunto aos beligerantes, exigindo que  cessassem as hostilidades e aceitassem a ocupação militar anglo-francesa da Zona do Canal. No outro dia, aviões britânicos e franceses atacaram campos de aviação egípcios. Em 48 horas os israelenses concluíram a ocupação do Sinai e de Gaza, ignorando a determinação de cessar-fogo expedida pela Assembléia Geral da ONU. Por sua vez, os egípcios afundaram navios no Canal de Suez, impedindo qualquer navegação. Dois dias depois, em 5 de novembro, as primeiras tropas anglo-francesas de infantaria desembarcaram na região. Aí as coisas então começaram a dar errado. A resistência egípcia foi maior do que o esperado, e apesar dos ataques aéreos vindos de três direções, aeronaves egípcias, provavelmente pilotadas por soviéticos e tcheco-eslovacos, teimavam em contra-atacar. Para piorar, os israelenses não conseguiram alcançar todos os objetivos propostos. A coisa acabou de azedar depois de 6 de novembro, quando Eisenhower foi reeleito presidente dos EUA. Não demorou dois dias para que Washington reagisse com indignação inesperada, e declarasse a operação anglo-franco-israelense como uma conspiração. Londres e Paris haviam intencionalmente violado a carta e o espírito da Declaração Tripartite de 1950, tratado que comprometia Grã-Bretanha, França e EUA a agirem contra o agressor, na eventualidade de qualquer conflito entre Israel e os árabes. Os EUA passaram a exercer dura pressão sobre os britânicos, exigindo que  sustassem a invasão do Egito. Para desgosto dos britânicos, chegaram a ameaçar suspender o apoio a libra esterlina. Uma eventual desvalorização de sua moeda os britânicos não poderiam encarar, pois traria conseqüências internas e possivelmente derrubaria o governo.  Eden teve de ceder e em 7 de novembro, apenas dois dias após a descida de tropas aero-transportadas britânicas em Port Said, as hostilidades cessaram. No mesmo dia, a ONU autorizou o embarque de uma Força de Paz para o Egito, aceita por Nasser, em 12 de novembro, desde que a soberania egípcia não fosse violada. Três dias depois, a Força de Paz da ONU chegou ao Egito, e em 4 de dezembro avançou para o Sinai. Lá permaneceria durante 10 anos.

O Brasil integrou, ao longo desse tempo, a Força de Emergência das Nações Unidas, com o 3° Batalhão do 2º Regimento de Iinfantaria, cuja base ficava na Vila Militar, Rio de Janeiro. A unidade integrava a 1ª Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF 1). Foi a primeira experiência das Forças Armadas brasileiras em uma missão de paz da ONU. O batalhão, que, pelas regras da organização, não tinha armamento pesado, ficou baseado na Faixa de Gaza, entre 1957 e 1967. Sua missão era patrulhar a linha de cessar-fogo, monitorando o trânsito de pessoas e equipamentos. Era  integrado por aproximadamente 600 efetivos, que se revezavam em períodos de aproximadamente 6 meses. Passaram por Suez uns 6.000 oficiais e praças brasileiros. O Brasil exerceu o comando operacional da UNEF 1 em duas oportunidades: de janeiro a agosto de 1964, com o general-de-brigada Carlos Paiva Chaves, e de janeiro de 1965 a janeiro de 1966, com o general-de-divisão Sizeno Sarmento::

A Guerra dos Seis Dias::O início dos problemas?::Que vitória foi essa, afinal?::

parte2Até hoje é questão de debate entre historiadores e cientistas políticos, se a guerra era mesmo necessária. De fato, analistas israelenses admitem que, desde 1956, os judeus foram responsáveis por 80% dos incidentes de fronteira com a Síria (embora aleguem o contrário) e também que o serviço de informações de Israel, o Mossad sabiam que Nasser não tinha condições políticas nem militares de se lançar numa guerra. Embora o historiador israelense Tom Segev (autor de um ótimo estudo sobre a sociedade israelense do pós-guerra: Israel in 1967. And the land changed its visage) admita essas possibilidades, alega em seu livro que “os israelenses estavam convencidos que ele queria destruir Israel”. Era o que aparecia na imprensa estrangeira, alimentada pela Agência Judaica. Mas até então, a política agressiva de Israel tinha sido contraproducente, em termos de resultados.

Seguev também alega que a agressividade árabe fortaleceu, no governo de Israel, a idéia de uma “defesa preventiva”, baseada em dois princípios: ataques aéreos preemptivos e movimentos rápidos de tropas blindadas e motorizadas, criando zonas de defesa avançadas. Estrategicamente, a guerra foi um sucesso estrondoso: Israel atingiu todos os objetivos, e ainda se viu em posição de grande vantagem estratégica. A imagem de Davi derrotando Golias atraiu alguma simpatia para a nação judaica, da opinião pública internacional, e particularmente nos EUA.

Em seu livro, Segev lista o que considera as principais consequências da guerra: os judeus orientais, fortemente marginalizados na sociedade israelense, mas parte importante das FDI, tiveram seu papel reconhecido e foram plenamente integrados. Muitos desses israelenses, entretanto, acabaram reforçando o o nacionalismo de direita, que, antes minoritário, passou a ser visto como legítimo por boa parte da população. A ascensão política de Menachem Begin (em certa feita chamado de “nazista” por ben Gurion) começou então). Os israelenses descobriram os palestinos; Israel, até então um estado fundamentalmente laico, se abriu ao judaísmo, a religião.

Entretanto, a vitória parece ter desorientado mesmo a população de Israel. Nos anos seguintes, começou a ser observado um resultado curioso: uma parcela considerável, não apenas dos habitantes de lá, como dos judeus por todo o mundo, viu a vitória-relâmpago como um sinal de que o povo de Deus estava finalmente reconquistando a simpatia do Criador.

De início, parece que nem todos os os israelenses perderam a cabeça: depois da vitória, o general Moshe Dayan, foi à Mesquita Dourada de Jerusalém e tirou os sapatos, cumprindo o ritual muçulmano em sinal de respeito. Em junho de 1967, no início das operações militares, Dayan tinha dito que aquela não era “uma guerra de conquista”. O general, ao que parece, tinha consciência de que uma disputa militar e política não poderia se transformar numa guerra religiosa, visto que esta seria muito mais difícil de resolver. Essa idéia, aparentemente, não se sustentou por muito tempo e, já no fim daquele ano, o governo israelense tinha abandonado o projeto de devolução integral dos territórios árabes ocupados.
 
 A interpretação da vitória estimulou o judaísmo, gerando uma forma local de fundamentalismo. Seguev observa que, logo depois da guerra, a maioria dos israelenses acreditava que “a ocupação seria apenas temporária”, mas o próprio governo passou a estimular a idéia de uma guerra perpétua sem solução diplomática possível. Essa idéia fortaleceu setores de direita, que, por volta dos anos 1970, começaram a se entender com o movimento fundamentalista que, a partir dos EUA, ganhava força. Um dos melhores exemplos dessa ascensão foi o movimento do rabino ortodoxo Meir Kahane, que se tornou, tanto nos EUA quanto em Israel, conhecido por promover a idéia de uma “Grande Israel” que seria a expressão política da Israel Bíblica. O movimento de Kahane não era, entretanto, nem o único nem o mais barulhento. Movimentos nacionalistas deram força para o radicalismo que se recusava a discutir a devolução de Jerusalem, e passaram a falar na cidade unificada como capital do estado judeu.Esses movimentos condenam o acordo de paz entre palestinos e israelenses, que prevê a devolução dos territórios conquistados por Israel. Para eles, a entrega de terras bíblicas, como Hebron, Jericó e Nablus, na Cisjordânia, é uma afronta à vontade de Deus. Ela contraria a aspiração judaica do retorno a uma época similar à do do rei Davi, que por volta de 1000 a.C. pacificou a região e transformou Jerusalém em centro religioso. A efervescência dessas idéias levou ao assassinato, em 1995, do primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, mentor do acordo de paz ao lado de Yasser Arafat. O culpado, Yigal Amir, era membro de um grupo fundamentalista, o Eyal, e justifica sua atitude afirmando que Rabin era um traidor do ideal judaico por devolver regiões ocupadas aos palestinos. 
Seguev considera que “o sionismo deu um tiro no pé quando o governo decidiu anexar o setor oriental de Jerusalém, sem consultar um jurista. Com este gesto, impediu qualquer possibilidade de paz. Seguiu-se a colonização”. Segev rejeita o argumento do historiador israelense Benny Morris, de lamentar hoje que Israel não tenha “concluído a tarefa”, expulsando os palestinos da Cisjordânia em 1967: “Essa questão é moralmente ilegítima… Seria um crime contra a humanidade”. Seguev também levanta a questão de que o sionismo usou a religião como argumento nacionalista de modo a consolidar a própria posição, e o fizeram antes de que árabes e palestinos descobrissem essa retórica. De toda forma, Morris tem contribuído para a revisão (ver a página 45 e as seguintes desse recurso de pesquisa, em espanhol) dos mitos fundadores do estado de Israel. Essa linha provavelmente ainda dará muito o que falar, agora que os historiadores dessa corrente – Avi Shlaim, Ilan Pappé, Simcha Flapan, além de Morris e Seguev,  promovem uma reescrita da história, se tornam mais conhecidos. Quem sabe, qualquer hora dessas, a Guerra dos Seis Dias também acabará revista, não como vitória militar, mas como origem dos problemas atuais da região::

Um sistema de armas às terças::Centurion-Sh´ot::Se não o melhor, um dos melhores::

E causa:: volta com a mais popular das colunas (essa coisa chama “coluna”..? Socorro, alguém que entenda do assunto!!!): “Uma sistema de armas as terças”, para quem já se deliciou com “Uma moça às segundas“, lá no PD. Sinceramente? A moça é jóia, mas sou mais o tanque… Divirtam-se! 

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Em 1943, o Departamento de Projetos de Tanques do Exército britânico foi consultado sobre um novo tanque pesado, designado A41. A preocupação maior do alto comando era a ameaça dos canhões alemães de 88 mm, e o Ministério da Guerra demandava um aumento da resistência geral, confiabilidade,  e a capacidade de resistir ao impacto direto de um “eight-eight“. Tudo isso sem superar o peso de 40 t – capacidade máxima das carretas de transporte usadas na época…

O DPT respondeu apresentando um desenho no qual uma suspensão de seis rodetes de retorno, em que o espaço entre o segundo e o terceiro rodetes era aumentado. A suspensão adotada foi do tipo Horstman, com molas horizontais externas. O casco foi desenhado em torno da blindagem inclinada (sloop armor) preparado para receber uma torre parcialmente fundida montando um canhão de alta velocidade e 76,2 mm (“17 libras”, na referência inglesa). A planta de potência era a Rolls-Royce Meteor, uma versão para tanques do motor Merlin de 20 cilindros.

Logo ficou claro que um veículo de 40 toneladas ,não seria capaz de resistir a impactos de 88 mm. Fora isso, o desenho mostrou-se soberbo, nos testes, de modo que o projeto de uma versão mais pesada logo foi iniciado. O A41 mostrava ter a resistência dos tanques de infantaria e a velocidade e agilidade dos tanques-cruzadores. Seu desempenho acabou convencendo o alto comando britânico a criar designação de “tanque universal”, que eliminava a diferença entre os dois tipos de veículo. O protótipo de 40 t foi denominado “Centurion Mark I”.

O Mark I apresentava certas características de desenho que o igualavam ao Pantera alemão e ao T-34 soviético: blindagem muito dura com desenho sloop em todas as superfícies frontais, e uma torre com forte proteção. Ainda assim, mostrou-se razoavelmente veloz e muito manobrável. Logo surgiu uma versão Mark II, com blindagem aumentada. Foi essa versão que entrou em produção de série, embora não a tempo para participar de qualquer das frentes da Segunda Guerra Mundial.

Pouco antes da entrada em serviço, a Real Fábrica de Artilharia completou os testes de um canhão de 84 mm (“20 libras”), que se mostrou extremamente potente. Esse foi o armamento principal da versão Mark III do Centurion, montado numa torre totalmente fundida. A nova versão também incorporou um sistema de estabilização automatizado para o canhão, de modo a possibilitar tiros mais precisos em movimento, motor mais potente e novo sistema de pontaria. A produção do Mark III começou em 1948-49, tornando-se a versão padrão do exército britânico.

Centurion Mk II em exposição no Museu Militar do Reduto, nos EUA

Centurion Mk II em exposição no Museu Militar do Reduto, nos EUA

 

 

Em meados dos anos 1950, o aparecimento do tanque soviético T-54 levou a que os britânicos se convencessem da necessidade de redesenhar o Centurion, de modo a dota-lo da versão L/7 (para tanques) do canhão L/52 de 105 mm. Este projeto, completado poucos anos antes, se mostrou extremamente bem-sucedido. Todas as versões do tanque, nos vinte anos seguintes, utilizaram o canhão L/7 como armamento principal.

O Centurion foi produzido até 1962, e continuou em serviço, no exército britânico e nos países da Commonwealth até 1980. Variantes especializadas (veículos de engenharia de combate e de manutenção de campanha) estiveram na ativa até 1994. Os Centurions participaram da Guerra da Coréia e da Guerra do Vietnam (em unidades autralianas) e estiveram nos regimentos aquartelados na Alemanha durante a Guerra Fria. A versão de demolição viu ação na operação “Tempestade no Deserto”, em 1991.

Um lote de Centurions Mark III foi entregue a Israel em 1963, dos estoques ingleses. Até então, o principal tanque do inventário israeli era o Sherman M-50, norte-americano, que tinha passado por diversas adaptações locais. A opção pelo Centurion foi feita depois que os norte-americanos recusaram-se a fornecer os tanques M-48 Patton, capazes de fazer frente aos T-54 e T-55 entregues pela URSS aos exércitos do Egito e Síria.

As FDI tiveram, no início, grandes problemas de treinamento e manutenção com os Centurions. O sistema, projetado tendo em vista as condições européias, mostrou-se muito frágil para o tipo de terreno encontrado no Oriente Médio. As constantes falhas mecânicas acabaram por levar os israelis a recolherem todos os Centurions disponíveis e proceder uma completa reengenharia da parte mecânica. Além do mais, os próprios norte-americanos afirmavam que o canhão de 84 mm da versão Mark III era insuficiente para encarar a blindagem de mais de 100 mm dos novos tanques soviéticos. Em 1965, Israel adquiriu alguns M-48 da Alemanha e várias centenas de canhões L7 diretamente dos britânicos, peças instaladas nos Centurions. O resultado foi um tanque bastante diferente da versão original, razão pela qual foi re-designado de

Concepção artistica da primeira versão do Sh´ot, estando bem visivel o canhão L/7
Concepção artística da primeira versão do Sh´ot, estando bem visível o canhão L/7

Sh´ot (“Açoite”) pelas FDI. Em 1966, as dificuldades financeiras britânicas os fizeram aceitar a participação de Israel no projeto do tanque de batalha (Main Battle Tank, ou MBT, em inglês) Chieftain. Além da participação no projeto, os ingleses abriram aos judeus a oportunidade de adquirir mais três centenas de Centurions Mark V disponíveis em seus estoques. Todos esses foram convertidos para a versão Sh´ot, e tiveram participação destacada na Guerra dos Seis Dias: os M-48 jordanianos foram amplamente derrotados pelos tanques israelis repotenciados. Depois da guerra, os M-48 e até mesmo os Sherman M-50 receberam o upgrade planejado para os Centurion. Por outro lado, a superioridade de desempenho do motor Continental instalado nos M-48 norte-americanos levou Israel a substituir a planta de potência original de seus Mark III e V por versões importadas desse motor.

Depois de 1967, entretanto, o governo britânico, seguindo a tendência européia, passou a não entregar sistemas de armas de última geração aos países do Oriente Médio. O resultado foi o cancelamento da participação de Israel no projeto do novo  tanque de batalha britânico. Prevendo a dificuldade em conseguir, futuramente, armamento de primeira qualidade, o governo determinou que a indústria militar local iniciasse o projeto para dotar as FDI de um tanque totalmente fabricado nacionalmente. Essa foi a origem do projeto Merkava, mas enquanto este não era posto em serviço (o que só iria acontecer no início dos anos 1980), a solução foi a compra de todos os lotes disponíveis de Centurions, e do M-60 (uma versão muito melhorada do M-48) diretamente dos EUA.

A experiência militar de Israel resultou em diversas modificações nos aproximadamente 550 Centurions que passaram por suas unidades blindadas. A disponibilidade, pelos principais adversários árabes, dos mais modernos blindados do arsenal soviético obrigou a constantes respostas, em termos de modernização e aumento do armamento. Em meados dos anos 1990, dificilmente os projetistas do A41 de 1945 reconheceriam seu projeto; mesmo a silhueta do tanque tinha mudado fortemente. Foi nessa época que ampla disponibilidade do modelo local Merkava levou à retirada de serviço dos últimos Centurions.

O filminho a seguir é muito interessante, por mostrar as capacidades de manobra e velocidade do Centurion, e, no final, o método de pontaria desenvolvido pelos ingleses no final dos anos 1950 e que se tornou padrão até o surgimento dos telêmetros a laser.

http://www.youtube.com/watch?v=STSJdT2Ih_o